sexta-feira, 7 de junho de 2013

53° Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes(CONUNE)

          Ao longo de um feriado de quatro dias, dez mil estudantes universitários se encontraram em Goiânia, para o 53o. Congresso da União Nacional dos Estudantes. Num exemplo de como as supostas prioridades nacionais afetam a rotina até mesmo da juventude dita mais revolucionária do país, o evento, que habitualmente ocorre nas férias, foi antecipado para não esbarrar na Copa das Confederações.

         Sem desprezar a paixão dos brasileiros pelo futebol, acredito que os universitários com paixão por política estariam dispostos ao sacrifício para participar desse evento do qual quase todos os seus participantes garantem ser capaz de mudar o Brasil. Entretanto, a UNE optou pela coexistência harmônica com o calendário esportivo e de grandes eventos, e dez mil estudantes que ou estavam saindo da G1 ou estavam entrando na G2 foram a Goiânia para o espetáculo mais mastodôntico do movimento estudantil.

        É sintomático que o Congresso da UNE tivesse se sentido à vontade para escolher uma data tão inóspita para o calendário acadêmico daqueles estudantes que ele diz representar. A verdade é que boa parte do Congresso da UNE pareceu uma partida de futebol (embora os resultados gerais já fossem amplamente conhecidos) com torcidas organizadas--algumas imensas--cantando e fazendo provocações com o mesmo entusiasmo como os torcedores mais devotos do esporte bretão. O fato de que as plenárias de votação ocorriam no grande estádio da cidade não ajudava a dirimir a sensação de estarmos num evento tão alucinante--e recreativo--quanto à final de um colossal campeonato esportivo--por mais que a maior delícia numa decisão de torneio seja o suspense quanto à vitória.
Em meio a toda essa sociedade do espetáculo, quando no decorrer desse processo é que se poderia discutir as várias questões políticas levantadas nas cerca de trinta teses apresentadas pelas dezenas de forças estudantis presentes? A rigor o momento para isso seria antes das plenárias finais no estádio, mas os dias iniciais do Congresso são entupidos pelos problemas mundanos como encontrar um alojamento para dormir (geralmente distante do evento, ao menos para os oposicionistas), espremer-se numa barraca para deitar no concreto, atravessar o oceano demográfico para conseguir se credenciar nas confusas barraquinhas, pagar as extorsivas taxas de participação, atravessar o trânsito impenetrável, a dificuldade de se conseguir comida, noves fora as vinte e três horas de ônibus para chegar até Goiânia. Para quem sobrevivesse a tudo isso, ainda havia muita festa, show, dança, barulho e hedonismo para distrair-nos dos assuntos essenciais. Debate sobre o que está acontecendo nas universidades, no Brasil, no mundo? Só se for nas próprias universidades, e DEPOIS do Congresso em si. E a essa altura, tudo já foi votado e todos os cargos já foram repartidos na mesa de jantar.

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